terça-feira, 27 de setembro de 2011

A utopia do macho ideal



“Macho, corpo atlético, ativo e totalmente fora do meio gay.”
Quem acabou de ler isto deve estar imaginando que é um daqueles conhecidos textos que já estamos cansados de ver nas salas de bate-papo e nos perfis de pegação gay. Mas não se trata disto. Esta, na verdade, é exatamente a forma como meu amigo Carlos (nome fictício) classifica o seu modelo de homem ideal para namorar.
Quando eu conheci Carlos, há alguns anos atrás, ele estava passando por uma fase de desilusão amorosa. Estava triste, solitário e vivia se queixando por nunca conseguir encontrar o seu macho ideal. Entretanto, ele não desistia de sua busca e estava sempre tentando se envolver com alguém.
Hoje, aos 45 anos de idade, nada na vida amorosa de Carlos mudou. Ele continua sozinho à espera do seu príncipe encantado: um macho do tipo hétero mandão, fiel e dedicado que virá “desposá-lo” e fazê-lo feliz para sempre. Uma fantasia que ele já alimenta há anos e que acabou se transformando num grande abismo à medida que o tempo foi passando.
Carlos está visivelmente desiludido. Tudo isto por causa desta idealização extrema que afeta boa parte do mundo gay.
Assim como Carlos, existem inúmeros gays que passam a vida inteira sonhando com a chegada do Príncipe-Bofe-Encantado, macho, ativo e fora do meio. É obvio que a figura do príncipe encantado faz parte do imaginário, mas os gays tendem a ser muito mais fundamentalistas dos que os héteros nesta questão.
Isto, certamente, é causado pelo vasto leque de possibilidades que o meio gay oferece. É muito homem disponível para se conhecer. É muito sexo fácil. E quanto maior o número de opções, mais difícil é a escolha, pois tendemos a ser criteriosos demais. E os critérios para definir o macho ideal são os mais variados possíveis, desde os mais sentimentalistas aos mais fúteis e banais, como por exemplo, o status social, a beleza estética e, até mesmo, o tamanho do dote.
Esta idealização do príncipe encantado se torna um entrave nas relações amorosas, pois as pessoas acabam sendo descartadas como meros objetos pelo simples fato de não atenderem a esta ou aquela expectativa. O mais intrigante é que na maioria das vezes são detalhes pequenos que fazem a diferença. Detalhes que não importariam nada se o foco estivesse voltado para coisas mais significativas, como o companheirismo, o caráter, a vontade de se relacionar, o carinho e todos os outros sentimentos mais nobres e consistentes.
A famosa “pinta”, por exemplo, costuma ser um dos pontos mais rejeitados desta eterna busca. Uma boa parte dos gays é unânime ao afirmar que tem preferência por homens másculos, do tipo bofão, que não demonstra nenhum trejeito afeminado e não escorrega nas gírias.
Isso me faz lembrar da seguinte frase que ouvi certa vez: “ Se machos gostam de machos e bibas gostam de machos, então, quem gosta das bibas?”
É lógico que gosto não se discute, mas nesse aspecto há muito mais do que uma simples questão de preferências. Há um calo cultural, preconceituoso e machista que já está enraizado na nossa sociedade e é difícil de remover até mesmo entre os gays.
A maioria das bibas sonhadoras que esperam aquele Príncipe-Bofe-Encantado que vem de fora do meio gay para buscá-las em cima de seu cavalo branco e bem dotado acabam se desapontando. Muitas se envolvem com homens casados ou mal resolvidos que não querem nada além de sexo furtivo ou outro tipo de interesse ($). Ou terão que se contentar com apenas alguns momentos de prazer ou irão sofrer pela falta do amor que o bofe nunca vai dar.
Carlos, por exemplo, me confidenciou em nosso último encontro que frequentemente busca homens “héteros” na internet ou vai a saunas a fim de pagar michês para satisfazer suas necessidades e cobrir o vazio deixado pela falta de um amor. Já que o macho ideal não aparece, Carlos não se importa em alugar um bofe por alguns minutos.
Infelizmente, é o que acontece com muitos. Mas são poucos aqueles que param de se queixar e de culpar os outros pela falta de sorte na vida amorosa para refletir sobre de quem é verdadeiramente a maior parcela de culpa.
Passar a vida esperando o príncipe encantado é perda de tempo. Ainda mais se este príncipe tiver o mesmo perfil do macho ideal de Carlos.
Parafraseando Arnaldo Jabour: o que você procura pode ser impossível de achar, então, procure algo que você pode achar e seja feliz ao invés de passar a vida inteira procurando algo indefectível que você nunca vai encontrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário